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Entrevista exclusiva para o EconomiaComportamental.org

Ana Maria Bianchi, professora titular da Universidade de São Paulo, conta como se aproximou da área de pesquisa em Economia Comportamental, e fala sobre o interesse despertado pela disciplina que está ministrando para alunos do curso de economia da USP.

Quando e como passou a se interessar pela Economia Comportamental?

Em decorrência de minha formação em ciências sociais, sempre tive um pé atrás em relação ao pressuposto de racionalidade da teoria econômica. Em meus cursos de sociologia econômica eu compartilhava com os alunos minha visão crítica sobre a noção estrita de racionalidade embutida na teoria tradicional. Com o tempo, passei a ministrar cursos de metodologia da economia, onde pude formular melhor essa crítica. Paralelamente a isso, tive a oportunidade de participar e coordenar pesquisas baseadas no método experimental, cujos resultados publiquei em periódicos brasileiros.

O caminho em direção à EC foi uma etapa natural desse processo, pois me parecia (e ainda é assim) um programa de pesquisa muito promissor, inovador do ponto de vista metodológico e indispensável à formação dos futuros economistas

Tive também a oportunidade de orientar a dissertação de mestrado da Roberta Muramatsu, hoje uma das mais conhecidas pesquisadoras brasileiras de EC. Roberta foi fazer seu doutorado na Universidade Erasmus, de Roterdã, e desde então me atualiza regularmente sobre os avanços da literatura internacional na área.

Mais recentemente, fui procurada pela Flávia Ávila e pela Carol Franceschini, que desenvolvem um trabalho extraordinário de divulgar a literatura de EC no Brasil. Flávia e Carol lideraram o trabalho de aglutinação dos primeiros esforços aqui desenvolvidos, e em 2014 me convidaram para integrar essa campanha, convite que recebi de bom grado.

Você está ministrando uma disciplina de Economia Comportamental para alunos do curso de Economia da USP. Conte-nos um pouco dessa experiência.

Nosso curso de Economia não tinha, até este ano de 2016, uma disciplina especificamente voltada para a temática de Economia Comportamental. Essa lacuna era lamentável, uma vez que a área tem se desenvolvido muito pelo mundo, e uma universidade do porte e da qualidade da USP não poderia ignorar esse movimento.

Da parte dos alunos de graduação em economia, surgiu de forma praticamente espontânea um grande interesse pela disciplina, que foi ministrada no primeiro semestre deste ano e está sendo repetida agora. Para dar uma ideia desse interesse, houve mais de 50 inscrições para cada turma. Ora, tendo em vista a natureza embrionária da disciplina, a comissão de carga didática houve por bem restringir o tamanho da turma, que foi fixado em 20 alunos por semestre. Com isso, foi necessário estabelecer um processo de seleção entre os interessados em cursar a disciplina, com base em seu desempenho acadêmico.

Que itens compõem o programa da disciplina, e que literatura de apoio foi adotada?

Como se poderia esperar de uma disciplina introdutória, o programa desenvolvido tem seu foco nos principais temas de EC: vieses e heurísticas, arquitetura de escolha, nudges, escolha intertemporal, teoria do prospecto, EC nas políticas públicas, finanças comportamentais, comportamento prossocial, normas sociais, questões éticas e introdução à neuroeconomia.

No que se refere à bibliografia, procuramos deixar o curso enxuto, para garantir que os alunos digerissem com profundidade os textos indicados. Assim, a “régua e o compasso” do curso é o Guia de economia comportamental e experimental, organizado pela Flávia Ávila, com minha ajuda. Complementam essa leitura básica os livros já clássicos da área, como Nudge, de Thaler e Sunstein, Thinking fast and slow, de Kahneman, Predictably irrational, de Ariely, e Misbehaving, de Thaler, além do relatório do Banco Mundial, Mind, society and behavior.

 

Qual o método pedagógico adotado na disciplina? Como se dá a participação dos alunos?

A natureza inovadora da disciplina na USP e a preocupação com o aprendizado efetivo me levaram a adotar o formato de seminário como base das aulas. Há poucas aulas expositivas no curso, ministradas por mim, com a colaboração de pesquisadores da área. Neste segundo semestre, a Carol Franceschini , do Instituto de Psicologia, se incumbirá da exposição sobre o método experimental; e a Renata Taveiros de Saboia ministrará a aula de introdução à neuroeconomia.  Fora isso, os alunos organizaram-se em grupos pequenos e ficaram responsáveis pela condução dos seminários. O ambiente em sala de aula costuma ser muito dinâmico, com discussões frequentes sobre os vários temas e pequenas atividades práticas que mobilizam a todos.

Um Comentário

  1. Carol Franceschini

    A profa. Ana Bianchi oferece contribuicoes fundamentais ao desenvolvimento da EC em nosso pais, seja pelos seus inspirados textos, pelo apoio generalizado aos alunos e pesquisadores, seja pela abertura dessa disciplina tao atual e inovadora na FEA. Afortunados os seus alunos! A area como um todo esta endividada por conta de sua generosidade. Obrigada por seu relato e continuo apoio!

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