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Conferências acadêmicas em geral seguem um padrão bem definido: pesquisadores apresentam trabalhos em sessões simultâneas e, ao final, um ou dois professores convidados apresentam em sessões plenárias com a participação de todos. O BIG Ideas Workshop, que aconteceu nos dias 18 e 19 de agosto na Harvard Business School, não foi uma conferência acadêmica padrão.

Quase setenta estudantes de doutorado do mundo todo, e pelo menos duas dúzias de professores de Harvard e outras universidades, passaram dois dias conversando sobre os rumos da economia comportamental, vida acadêmica, melhores práticas para trabalhos com empresas e governo e, claro, debatendo ideias de pesquisa. Como um dos participantes, vou usar esse espaço pra dividir com vocês o que aprendi nesses dois dias.

Em primeiro lugar, é incrível conhecer tantos jovens pesquisadores interessados em aplicar as ciências comportamentais para entender alguns dos mais importantes problemas sociais da nossa geração. Conheci pessoas que estudam, por exemplo, o impacto de pequenas intervenções via celular na qualidade das decisões financeiras de famílias de baixa renda; outros que pesquisam diferentes métodos para incentivar crianças e adolescentes a terem uma alimentação mais saudável; e também empreendedores que fundaram uma consultoria especializada em aplicar os insights da Economia Comportamental no mundo dos negócios.

Speed Research

Essa não seria uma conferência acadêmica se não houvesse um momento de discussão de pesquisa (e esta foi uma conferência acadêmica!). O formato, contudo, foi bem distinto do que o usual. Ao invés de apresentações individuais para o grupo todo, os participantes foram divididos em grupos menores, de 6 ou 7 pessoas, e tiveram que descrever um projeto de pesquisa em 5 minutos. Esse tipo de exercício força o pesquisador a se concentrar naquilo que há de fundamental em seu trabalho. É mais ou menos como uma ditado que circula em meios acadêmicos: se você não consegue explicar sua pesquisa para seus avós durante o café da tarde, então você esta fazendo algo errado. E, claro, os frequentes coffee breaks possibilitaram uma discussão mais profunda entre os interessados em áreas similares.

Em outra inovação interessante, os organizadores da conferência enviaram um questionário anônimo para ser preenchido antes do encontro. No questionário, os jovens pesquisadores poderiam fazer perguntas aos pesquisadores mais experientes, especialmente perguntas evitadas em situações mais formais. Por exemplo, uma das perguntas foi a seguinte: “Na sua agenda de pesquisa, qual a relativa importância entre, de um lado, a busca pela verdade científica e, de outro, o objetivo de publicar em bons periódicos”. Resposta: todos os pesquisadores concordaram que a busca pela verdade é uma condição necessária para uma boa publicação. Outro participante perguntou qual a melhor maneira de buscar opiniões sobre um projeto de pesquisa junto a pesquisadores já estabelecidos. Resposta: acadêmicos quase sempre gostam de discutir boas ideias, sejam eles os criadores ou não; portanto, dedique tempo a desenvolver sua ideia antes de entrar em contato.

Uma das partes mais divertidas do encontro foram os grupos de discussão com pesquisadores consagrados. Abaixo, alguns conselhos que ouvimos.

o objetivo de sua pesquisa deve sempre ser responder a uma pergunta que lhe interesse profundamente
Max Bazerman

sabemos bastante sobre como influenciar o comportamento das pessoas, e precisamos agora enfatizar o cálculo de bem-estar social de qualquer intervenção ou mudança de comportamento
David Laibson

converse sobre suas ideias com o maior número de pessoas possível, especialmente de áreas diferentes
Iris Bohnet

os experimentos de campo nunca acontecem como o plano inicial, portanto tenha planos B, C e D
Todd Rogers

escolha co-autores que você gostaria de ter como companhias em momentos de lazer
Allison Wood Brooks

assuma alguns riscos ao escolher projetos de pesquisa e nem sempre dê ouvidos aos pesquisadores mais experientes
Gautam Rao

A vida de um doutorando pode às vezes se tornar cansativa, e dias (ou semanas) de trabalho solitário de vez em quando cobram seu preço. Mas sempre que nos encontramos com outros jovens pesquisadores motivados, trabalhando em problemas similares, e com muito a acrescentar às nossas próprias ideias, a chama da curiosidade se acende de novo, e, como uma criança de seis anos, voltamos a olhar pro mundo e perguntar “por quê”?

 

 

 

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