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Professor Paul Dolan, da London School of Economics and Political Science, fala dos Behavioral Spillovers, um dos mais promissores temas de pesquisa da Behavioural Economics. Dolan é um dos fundadores do Behavioral Insights Team do governo britânico, primeira unidade do mundo a aplicar insights da área em políticas públicas.

 

Em seu artigo recente “Like ripples on a pond: Behavioral spillovers and their implications for research and policy” (“Como ondas em um lago: spillovers comportamentais e suas implicações para as pesquisas e políticas”), em co-autoria com Matteo M. Galizzi, você examina a ideia de que nenhum comportamento acontece no vácuo, e que um comportamento pode afetar acentuadamente o que acontece a seguir. O artigo apresenta uma visão complementar e crítica das ideias mais recentes sobre como as políticas estão sendo formuladas e medidas atualmente. O que está errado? Como melhorar?

Professor Paul Dolan, da London School of Economics and Political Science. Foto: BBC / Nigel Bradley

Os spillovers (transbordamentos, em tradução livre) comportamentais são um dos nossos novos temas de pesquisa mais empolgantes. São movidos pela constatação de que “nenhum comportamento acontece no vácuo” — de que tentar influenciar um comportamento com nudges pode acarretar efeitos consequentes sobre outros comportamentos de natureza semelhante ou diversa, os quais poderiam reforçar o nudge inicial ou ter um efeito diferente do pretendido e piorar as coisas. As evidências são muito limitadas, e nossas pesquisas ainda estão engatinhando.

Creio que isso esteja acontecendo porque, sobretudo na formulação de políticas, os departamentos trabalham em escaninhos. Cada departamento governamental está interessado nos objetivos específicos de suas políticas, por isso não há incentivo para reunir as várias consequências comportamentais das diversas intervenções. Creio que essa é uma das principais barreiras para chegarmos a uma melhor compreensão dos spillovers. No âmbito de cada política isso deveria ser mais fácil, e existem algumas evidências disso. Por exemplo, sabemos que cerca de 40% da poupança advinda do consumo de energia em residências são contrabalançados.

Embora em certo sentido os spillovers compliquem as coisas porque geram a necessidade de tentarmos reunir todas as ondas do lago, eles podem nos dar oportunidades para mudar comportamentos intratáveis. Por exemplo, se você não consegue me induzir a fazer aquilo que idealmente gostaria que eu fizesse, provocar em mim um sentimento de culpa por não fazer talvez possa me induzir a alguma ação na qual você, como formulador de políticas, está interessado. Portanto, é complicado e difícil de captar, mas abre toda uma gama de novas possibilidades comportamentais.


Este post é parte da entrevista do Professor Paul Dolan para o Guia de Economia Comportamental e Experimental, primeiro guia da área no Brasil e que será lançado na próxima semana. Acompanhe aqui os próximos posts da série e fique por dentro das ideias das maiores autoridades em Behavioral Economics do mundo.


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