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Na disciplina de Sociologia Econômica, que leciono há muitos anos para alunos do curso de Economia da USP, um tema obrigatório tem sido a discussão da racionalidade econômica e a concepção do homem econômico. Desde as leituras de clássicos como Max Weber havia a preocupação de questionar a visão corrente, raciocinando com os alunos sobre outras dimensões da racionalidade que iam além da racionalidade instrumental. Essa preocupação encontrou terreno fértil na disciplina de Metodologia da Economia, que passei também a lecionar. Nesta tive contato com o texto pioneiro de John Stuart Mill sobre escopo e método da Economia Política, em que há uma das primeiras formulações do conceito de homem econômico. Daí decorreu meu interesse pelas pesquisas de Economia Comportamental, principalmente aquelas baseadas em procedimentos experimentais, cujos resultados contrariavam a visão de um ser humano movido exclusivamente por interesses egoístas.

Como se vê, meu contato com a Economia Comportamental se deu por razões de natureza principalmente acadêmica, pois queria compartilhar com meus alunos reflexões provenientes da crítica a um personagem estereotipado, o homem econômico, que povoava seus livros-textos. Entretanto, essa necessidade de conhecer melhor as motivações humanas extravasa o plano puramente acadêmico. Os achados da Economia Comportamental são importantes para apontar os múltiplos fatores que afetam as decisões complexas tomadas por indivíduos e grupos humanos, em diferentes contextos sociais. Eles nos dão diretrizes importantes para explicar atitudes e comportamentos e elaborar políticas apropriadas, inclusive no que diz respeito a bens públicos e ao bem estar social como um todo.

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  1. Roberta Muramatsu

    Gostei muito do relato da Ana Bianchi. Meu interesse pelas interseções entre psicologia e economia surgiu precisamente nas aulas de sociologia Econômica oferecidas por ela durante minha graduação na década de 1990. Depois minha curiosidade e paixões intellectuais só cresceram desde então e foram também alimentadas pelas discussões de filosofia da economia nas aulas do Eduardo Giannetti no início do mestrado no IPE-USP. Bons tempos foram aqueles. Na época falávamos sobre questões de ética, na economia, racionalidade, críticas do professor Sen e até mesmo refletíamos sobre questões de filosofia da mente e temas que vi depois tratados na literatura de neuroeconomia.

    Tudo isso foi super importante para eu desviar das pesquisas econômicas convencionais e escolher tomar o risco de mergulhar em mares pouco navegáveis que caracterizam estudos sobre a racionalidade do altruísmo na época do mestrado e a análise comportamental sobre o papel das emoções na tomada de decisão Econômica já no doutorado.

    Mais recentemente, percebo um número crescente de estudantes e jovens pesquisadores brasileiros interessados pela Economia Comportamental por diversas razões. Tenho certeza que em breve nosso grupo estarâ consolidado. O site economia comportamental.org, idealizado pela Flavinha Avila, foi uma grande ideia.

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    • Obrigada e fico muito feliz e honrada de ter vocês como parte desse projeto!

      E que ele seja só um começo! Sem dúvida vocês também são uma grande inspiração para nós.

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