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Na semana de 6 a 11 de Março, participei da Spring School in Behavioral Economics, organizado pela Universidade da Califórnia, San Diego e pelo Choice Lab da Escola de Economia da Noruega. O evento promoveu o encontro de estudantes e pesquisadores em economia comportamental, e contou com a participação de Richard Thaler, Uri Gneezy, Sally Sadoff e muitos outros pesquisadores. Neste post, vou resumir em um parágrafo a pesquisa atual de 5 dos pesquisadores participantes, com o objetivo de traçar um panorama do estado atual da pesquisa em economia comportamental.

Uri Gneezy

Uri Gneezy é professor de economia comportamental na Rady School of Management, da Universidade da Califórnia em San Diego. Ele apresentou um trabalho sobre Mutilação Genital Feminina (MGF), uma prática odiosa presente em aproximadamente trinta países ao redor do mundo, e que consiste na mutilação de partes da genitália de recém-nascidas ou jovens, dependendo do país. Normas culturais desses países conferem um status social maior a meninas submetidas à MGF. Com o intuito de diminuir a incidência de MGF, Uri Gneezy e co-autores estão desenvolvendo um experimento de campo na Tanzânia, um país em que a MGF é aplicada no início da adolescência. A ideia é custear o ensino médio das meninas em risco sob a condição de que a família não realize o procedimento. A hipótese dos autores é de que o status advindo da educação seja maior que o status advindo da MGF. Além disso, quando um certo número de famílias deixar de apoiar a MGF, a pressão social será menor e o procedimento deixará de ser utilizado. O trabalho está ainda em fases iniciais e será um grande avanço caso ideias e técnicas da economia comportamental ajudem a acabar com a MGF.

Richard Thaler

Thaler é, sem dúvida, uma das figuras mais importantes da economia comportamental. Além de ser um dos pioneiros na academia, Thaler teve uma grande influência sobre políticas públicas, em especial após a publicação de Nudge, seu livro com Cass Sunstein. No evento, Thaler liderou uma discussão sobre o passado e o futuro da pesquisa em economia comportamental. Na sua fala, Thaler discorreu sobre os primeiros artigos que publicou, desde a ideia inicial até a publicação, e fez um alerta para os pesquisadores atuais. Para Thaler, está cada vez mais difícil fazer contribuições originais, e os jovens pesquisadores da nova geração devem preocupar-se cada vez mais com a robustez e replicabilidade dos seus resultados.

Sally Sadoff

Sadoff é professora da Rady School of Management da Universidade da Califórnia,  em San Diego e sua pesquisa foca primariamente nas áreas de educação e escolha intertemporal. Ela apresentou um trabalho recente em que utiliza experimentos de campo para estudar inconsistências intertemporais em decisões sobre alimentação. Em parceria com uma rede de supermercados de Chicago, Sadoff e co-autores criaram uma campanha de marketing em que o supermercado sorteia alguns clientes para ganhar uma cesta de produtos. Os clientes sorteados escolhem os produtos de uma lista contendo itens saudáveis e não saudáveis. Quando a cesta é entregue, contudo, os mesmos clientes tem a oportunidade de alterar suas escolhas anteriores, e a comparação entre a quantidade de escolhas saudáveis feitas no passado e no presente gera uma medida de inconsistência intertemporal.

Bertil Tungodden

Tungodden é pesquisador do Choice Lab, o laboratório de pesquisas experimentais da Escola de Economia da Noruega. No evento, Tungodden apresentou um inovador experimento de campo em que compara as atitudes e preferências sociais de participantes dos EUA e da Noruega. O objetivo de sua pesquisa é entender como as duas sociedades encaram a desigualdade de renda, sob duas condições distintas: quando a desigualdade é gerada por mérito ou por sorte. Os resultados indicam que noruegueses são em média mais avessos à desigualdade do que americanos.  Por outro lado, os dois grupos se assemelham no fato de serem mais tolerantes com a desigualdade proveniente de mérito do que com aquela proveniente de sorte.

Alex Imas

O trabalho de Imas foi um dos mais interessantes apresentados em San Diego. Por muito tempo, a literatura que estuda percepções de risco conviveu com um dilema. Muitos trabalhos encontraram evidências de que uma perda inicial aumentava a propensão à tomada de risco subsequente, enquanto outros encontraram o exato oposto, ou seja, que uma perda inicial diminuía a propensão ao risco no futuro. O trabalho de Imas aparentemente resolveu esse dilema, ao encontrar uma diferença crucial entre os trabalhos que chegavam a conclusões distintas: se uma eventual perda era realizada imediatamente ou somente ao final do experimento. Por exemplo, imagine um experimento em que os participantes realizem 3 escolhas seguidas entre 2 opções: A (50% de chance de +$5 e 50% de chance de -$1) ou B (50% de chance de +$10 e 50% de chance de -$3). Imas demonstrou que um participante que recebe o pagamento a cada rodada se torna menos propenso ao risco em caso de perda, enquanto um participante que recebe o pagamento acumulado somente após realizar as 3 escolhas se torna mais propenso ao risco em caso de perda. Essa diferença no desenho do experimento, que antes era encarada como um detalhe, mostrou-se uma variável crucial para resolver o dilema da literatura.

 

Em resumo, os trabalhos apresentados no encontro indicam que a pesquisa em economia comportamental está se expandindo em novas direções, como o trabalho de Uri Gneezy sobre a MGF, e também se consolidando em algumas áreas, como exemplificado pelo trabalho de Alex Imas. Por fim, novas técnicas e metodologias continuam sendo propostas, como a comparação entre americanos e noruegueses feita por Tungodden e co-autores

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