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O Modelo de crença em saúde – MCS (Health Belief Model) é uma teoria comportamental descrita há mais de 50 anos, com grande aplicação no dia-a-dia de atendimento aos pacientes. De acordo com essa teoria a probabilidade de um indivíduo aderir a um hábito de vida saudável, farmacológico ou não farmacológico, depende da combinação de três percepções:

1) a percepção de risco relacionado a condição de saúde da pessoa,

2) a percepção de benefícios relacionados a mudança do hábito, e

3) a percepção de barreiras para mudança do hábito.

Essas três percepções se combinam, e determinam um resultado comportamental específico.

Vejamos dois exemplos: 

Atividade Física

De acordo com o MCS, para uma pessoa praticar atividade física de maneira regular, inicialmente é necessário que entenda o risco à saúde proporcionado pelo sedentarismo, que perceba nesse sentido os benefícios de se tornar fisicamente ativo, e finalmente que seja possível suplantar barreiras para a prática esportiva, e essas barreiras podem ser, nesse caso, falta de tempo, uma demanda importante no trabalho, falta de local apropriado, entre outras.

Uso de Insulina

A insulina é uma medicação administrada por via subcutânea através de uma agulha, indicada para o tratamento do diabetes. Para o paciente se engajar no tratamento, e usar insulina, de acordo com o MCS, em primeiro lugar precisa perceber o risco do diabetes e do não tratamento, das complicações, depois precisa compreender os benefícios do tratamento, nesse caso, do uso de insulina, e finalmente suplantar barreiras para o uso, que podem ser falta de acesso ao medicamento, medo de agulha, desconforto em aplicar a medicação em local fora do ambiente domiciliar, entre outras. 

Ressalte-se que o MCS não é o único responsável pelo resultado comportamental em saúde dos pacientes, que na realidade é multifatorial, e depende de inúmeras outras questões, mas, mesmo assim, tem utilidade na prática clínica, quando cada uma das três percepções apresentadas acima são utilizadas pelo profissional de saúde para aumentar o engajamento em saúde. As percepções de risco e de benefícios precisam ser calibradas e ajustadas pelo profissional de saúde diante do paciente.

Educação em Saúde

A educação em saúde tem papel fundamental em calibrar essas percepções, de maneira que o paciente tenha plena ciência do terreno em que esta pisando. A falta de informação em saúde, e pior, a informação incorreta são grandes causas da falta de engajamento dos pacientes nos tratamentos, ou nas medidas preventivas propostas. Além disso, as barreiras percebidas pelos indivíduos precisam ser identificadas pelo profissional de saúde, e soluções customizadas precisam ser implementadas. A identificação das barreiras e a proposição de soluções direcionadas para essas barreiras possibilita melhorar  a adesão ao tratamento e os resultados clínicos para o paciente. Dessa forma, aplicar o MCS exige de um lado educação em saúde, e de outro a busca ativa por barreiras, com proposição de soluções customizadas que facilitarão o engajamento dos pacientes.

 

Artigos de referência complementares:

1. Glanz and Bishop. The Role of Behavioral Science Theory in Development and Implementation of Public Health Interventions. Annu. Rev. Public Health 2010. 31:399–418

2. Katz and Bosworth. Behavioral sciences in clinical practice. Einstein (Sao Paulo). 2016 Jan-Mar;14(1):vii-xiv. doi: 10.1590/S1679-45082016ED3647

 

Marcelo KatzMédico Cardiologista pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, fundador da BOSS Health, empresa de consultoria voltada para a área de engajamento em saúde.  Doutorado em Cardiologia pela Universidade de São Paulo, Master of Health Science in Clinical Research pela Duke University, tendo publicado mais de 40 artigos em periódicos internacionais nas áreas de Cardiologia, Gestão em Saúde e Ciência Comportamental. Nos últimos 10 anos vem se dedicando ao estudo da ciência comportamental aplicada à prática clínica, tendo orientado alunos de Mestrado e Doutorado no programa de Pós-graduação do Hospital Israelita Albert Einstein. É membro efetivo da ESPACOMP – International Society for medication adherence. Atualmente exerce atividade assistencial como médico cardiologista, além de atuar como educador, palestrante, mentor e advisor em ciência comportamental aplicada à saúde, engajamento de pacientes e adesão terapêutica.

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