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A Economia é frequentemente chamada da ciência das escolhas humanas. Como economistas, gastamos  um bom tempo observando, explicando e prevendo as escolhas que as pessoas fazem.

Vamos assumir (eu espero que seja verdade!) que economistas também se importem com quão “importante” é uma escolha no sentido econômico, considerando coisas como a quantidade de pessoas afetadas pela escolha ou a quantia de dinheiro de outras pessoas envolvidas. Nós veremos que muitas dessas importantes decisões são feitas em grupos. Pense em quantas decisões importantes são tomadas por partidos políticos e comitês, conselhos de administração, bancos centrais, famílias ou grupos de amigos.

Curiosamente, a maior parte do os cientistas sabem sobre escolhas feitas por grupos advêm da pesquisa em Psicologia, não em Economia. Porém as coisas vem mudando desde o final da década de 1990. Muito da “nova” pesquisa sobre escolhas em grupo é agora conduzida por economistas experimentais e comportamentais.

Interessei-me pela primeira vez em estudar grupos no começo do meu PhD. Estava planejando trabalhar com comportamento de manada em mercados financeiros (um tópico não muito comportamental – já que a maior parte dos modelos assumem a boa e velha racionalidade), mas em vez disso fui atraído pela pesquisa sobre grupos. Revisitando minhas anotações antigas, minha escolha foi fortemente influenciada por dois artigos experimentais intitulados “Grupos são mais (ou menos) consistentes que indivíduos?”, de John Bone, John Hey e John Suckling (1999, JRU) e “ Duas cabeças são melhores que uma?”, de Blinder e Morgan (2005, JMCB).

O trabalho de Blinder e Morgan olha para o desempenho de grupos em comparação com indivíduos no que diz respeito a ajustar suas decisões com base em informações recebidas. Eles fazem um experimento sobre quão bem os grupos respondem à informação em um “jogo de política monetária”. O objetivo do jogo é estabilizar um sistema econômico (simulado) por meio da distinção entre flutuações do dia a dia e choques econômicos permanentes.

Se você pensar bem, distinguir a informação do ruído é uma habilidade essencial em muitos ambientes.

Inspirados pela experiência de Blinder no Comitê de Política Econômica dos EUA (e suas aparentes frustrações com a lentidão da tomada de decisão em grupo), eles se perguntam como grupos se comparam a indivíduos. E, ao contrário das expectativas, eles descobrem que grupos vão significativamente melhor que indivíduos. Apesar de grupos e indivíduos levarem o mesmo tempo para decidir, grupos são mais precisos na tarefa.

Bone e seus coautores investigam se grupos tomam decisões diferentes com relação a desfechos arriscados ou, mais precisamente, se as escolhas em grupo são mais consistentes com a Teoria da Utilidade Esperada (Expected Utility Theory) do que escolhas individuais.

Eles estão interessados em descobrir se, apesar de haver muitas evidências experimentais de que os indivíduos não agem como “maximizadores da utilidade esperada”, isto pode mudar quando as pessoas fazem escolhas em grupos.

Talvez as interações em grupos façam as pessoas verem as coisas de forma diferente, fazendo-as mais alinhadas com a teoria.

Eles descobrem, no entanto, que grupos são tão inconsistentes quanto indivíduos. Uma coisa que me chama a atenção sobre seu trabalho é que os grupos escolhem opções com resultados esperados maiores do que as opções dos indivíduos. Os autores não dão tanta importância a este resultado, mas eu acho que é algo um tanto fundamental sobre grupos: eles estão mais à vontade para assumir “riscos calculados” do que indivíduos.

Parte do meu próprio trabalho sobre grupos –com Spiros Bougheas e Martin Sefton, meus supervisores de tese na Universidade de Nottingham – conecta-se de forma bastante interessante com os resultados dos trabalhos mencionados anteriormente. Mas em vez de focar nas decisões dos grupos em si mesmos, nós olhamos para como as pessoas respondem quando escolhem individualmente, mas em um ambiente de grupo. Isto revela alguns resultados sutis e surpreendentes. Uma de nossas conclusões é que um dos elementos-chave de decidir em um grupo – a comunicação com outros membros – tem algumas consequências inesperadas.

Compartilhando informações com outros

Assim como Blinder & Morgan, nós descobrimos que grupos são geralmente bons ambientes para compartilhar e interpretar informações. Em nossos experimentos, pessoas em grupos são boas em incorporar diferentes pedaços de informação sobre probabilidade em suas decisões. Mas há mais: mais da metade das pessoas em nossos experimentos não dão o mesmo peso para informações descobertas por si mesmas e para informações aprendidas com outros membros do grupo.

Nossos resultados fariam total sentido se as pessoas fossem simplesmente desconfiadas da informação passada por outros. Mas, interessantemente, quando permitimos que as pessoas em grupos se comunicassem livremente umas com as outras, observou-se que na realidade a maioria das pessoas na verdade coloca mais peso na informação recebida dos outros do que na sua própria informação. A partir daí, há duas formas de interpretar nossos resultados: (1) ou as pessoas colocam peso demais na informação recebida de outros, ou (2) a comunicação em grupo os ensina a se ajustar por ter no início colocado peso demais na própria informação. Em ambos os casos, nosso experimento é um dos primeiros trabalhos a mostrar um efeito tão forte de trocar informações com outros indivíduos.

Consultando outros

Em outro experimento, nós olhamos para a diferença entre grupos que tomam decisões por consenso e grupos cuja única função é de consulta – deixando as pessoas conversar uns com os outros sobre suas decisões individuais. Nosso experimento foi baseado em dois trabalhos de Matthias Sutter (2007 Econ Letters, 2009 AER) nos quais grupos alcançam ganhos esperados maiores ao tomar mais risco do que indivíduos (como no trabalho Bone, Hey e Suckling que mencionei acima).

Nós confirmamos os resultados de Sutter e até encontramos evidências ao analisar os registros das conversas entre membros dos grupos de que falar sobre ganhos esperados e fazer maiores investimentos está relacionado. Em seguida nós testamos se a consultoria teria o mesmo efeito do que a discussão de grupo no tocante à tomada de risco, e descobrimos que não tem.

O que ocorre é que quando as pessoas não têm nenhum incentivo financeiro para conversar com outros, elas não falam sobre ganhos esperados. Mesmo quando demos às pessoas feedback específico a cada rodada sobre como os outros no grupo estavam indo, fazer consultas não levou a maior tomada de risco. O único efeito das consultas que encontramos é uma leve convergência entre as decisões dos indivíduos – conversar aproxima as decisões umas das outras.

O que vem em seguida?

Os experimentos dos quais falei pintam um quadro bastante positivo sobre grupos, desde de que seus membros tenham um incentivo para trocar informações entre si. Mas muitos de nós ainda temos várias experiências frustrantes na vida real com decisões feitas em grupo. O que a pesquisa nessa área pode nos falar sobre esses casos?

Uma coisa importante sobre a qual ainda sabemos muito pouco é como grupos e equipes aprendem. Sob que circunstâncias eles melhoram suas escolhas ao longo do tempo? Os experimentos acima não nos dizem muito a respeito disso. Estamos atualmente trabalhando em experimentos que investigam questões como essas. É, como sempre, mais pesquisas são necessárias…

 


Artigo original em: http://www.economiacomportamental.org/internacionais/deciding-as-groups-and-deciding-in-groups/


 

Tradução: Fábio Tadashi Suzaki


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