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Emoções sociais como raiva, empatia, inveja e vergonha moldam interações estratégicas, pois não só influenciam o comportamento dos indivíduos que as sentem, mas também o comportamento das pessoas que interagem com eles. Essa é a razão pela qual até mesmo emoções negativas podem resultar em um comportamento econômico desejável.

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Eyal Winter é bacharel em Matemática e Estatística e PhD em Teoria dos Jogos pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor de Economia na cadeira Silverzweig nessa mesma universidade, onde realiza pesquisas dentro do The Federmann Center for the Study of Rationality. É autor de “Feeling Smart: Why our Emotions are More Rational than We Think

Muitos consideram a tomada de decisão um processo com dois mecanismos distintos e conflitantes, que se confrontam em uma luta crucial na qual o mecanismo emocional e impulsivo dentro de nós tenta escolher a coisa “errada”, enquanto o mecanismo racional e intelectual que também existe em nós promete nos levar lentamente, com dificuldade, a por fim tomar a decisão certa. Essa é uma descrição simplista e equivocada.

Nossos mecanismos emocionais e cognitivos trabalham juntos e se sustentam mutuamente. Às vezes é impossível separá-los. Em muitos casos, uma decisão baseada na emoção ou intuição pode ser muito mais eficiente — e até melhor — do que uma decisão tomada depois de uma análise minuciosa e rigorosa de todos os possíveis resultados e implicações. Um estudo feito na Universidade da Califórnia (Santa Bárbara) várias décadas atrás indica que, em situações nas quais estamos moderadamente zangados, nossa capacidade de distinguir entre afirmações relevantes e irrelevantes em questões controversas se intensifica. Outro estudo que fiz em coautoria revela que nossa inclinação a nos enraivecer aumenta em situações nas quais podemos nos beneficiar com a raiva. Em outras palavras, há lógica na emoção e, frequentemente, emoção na lógica.

Emoções sociais como raiva, empatia, inveja e vergonha moldam interações estratégicas, pois não só influenciam o comportamento dos indivíduos que as sentem, mas também o comportamento das pessoas que interagem com eles. Essa é a razão pela qual até mesmo emoções negativas podem resultar em um comportamento econômico desejável. Uma atitude vingativa pode induzir à cooperação mais do que uma atitude auto-interessada e perfeitamente racional. Mesmo quando reações emocionais são prejudiciais ao nosso comportamento econômico, e elas frequentemente o são, quase sempre surgem por alguma razão. Não raro, a razão é evolucionária e pode nos oferecer diretrizes para soluções eficazes.

Os novos insights que vêm sendo obtidos sobre o papel das emoções são fruto de uma discreta revolução que vem acontecendo nessas duas últimas décadas, em três importantes disciplinas de pesquisa: ciências do cérebro, Economia Comportamental e teoria dos jogos. Juntas, essas três áreas expandiram nossa compreensão de todos os aspectos relacionados ao comportamento humano. Se no passado as emoções eram estudadas principalmente pela psicologia, sociologia e filosofia, enquanto a racionalidade era território da economia e teoria dos jogos, agora tanto o estudo da racionalidade como o estudo das emoções são tema de pesquisas de estudiosos de todas essas áreas.

A teoria dos jogos e a Economia Comportamental vêm expandindo rapidamente os temas no campo da economia. Nas duas últimas décadas, 13 prêmios Nobel de Economia foram entregues a estudiosos dessas duas áreas. A influência deles é sentida muito além dos muros da academia. O economista Cass R. Sustein, por exemplo, foi administrador do Office of Information and Regulatory Affairs da Casa Branca durante o governo do presidente Barack Obama. Seu colega Richard H. Thaler ajudou a formar o Behavioral Insight Team instalado pelo primeiro-ministro britânico David Cameron em seu Cabinet Office para servir como um corpo consultivo interno usando ferramentas comportamentais. No entanto, a Economia Comportamental enfoca principalmente as limitações da nossa mente cognitiva e, em grande medida, deixa de fora a nossa mente emocional. Procura desfazer vieses sem determinar a procedência deles, ou até mesmo pressupondo sua improcedência como hipótese inicial. Muitos dos vieses que a maioria de nós acredita serem movidos por limitações da habilidade cognitiva são, na verdade, movidos por emoções.

Vejamos dois exemplos. Muitos supõem que o comportamento de manada é resultado de preguiça cognitiva. Em vez de descobrir qual é a coisa certa a fazer, escolhemos a opção mais simples: seguir a multidão. É uma explicação errada para esse viés. Muitas vezes seguimos a multidão porque tememos nos arrepender. Tomar a decisão errada dói menos quando todo mundo também errou. Afinal de contas, como diz o provérbio inglês, “a tristeza ama companhia”.

O segundo exemplo vem da relutância em vender ativos com prejuízo. A maioria dos economistas atribui esse fenômeno a falsas crenças sobre reversão à média. Mas o arrependimento também parece ser o principal motor nesse caso. O custo mental de admitir que se tomou uma decisão financeira errada pode ser enorme. Contudo, essa decisão só será rotulada como errada quando o ativo for vendido. Enquanto ele for mantido, a decisão de tê-lo comprado pode se revelar uma ótima decisão. O comportamento econômico doente requer diagnóstico antes de prescrevermos remédios. Atirar no escuro com nudges não pode ser uma estratégia eficaz para melhorar o comportamento econômico. Para que as extraordinárias realizações já vistas em Economia Comportamental possam continuar a progredir, precisamos urgentemente de pesquisas teóricas e empíricas que deem prioridade à questão de por quê as pessoas se comportam de determinados modos.

Leia este e outros artigos no Guia de Economia Comportamental e Experimental, disponível gratuitamente para download.


Eyal Winter

Bacharel em Matemática e Estatística e PhD em Teoria dos Jogos pela Universidade Hebraica de Jerusalém. Professor de Economia na cadeira Silverzweig nessa mesma universidade, onde realiza pesquisas dentro do The Federmann Center for the Study of Rationality. Também leciona Economia na Universidade de Leicester, no Reino Unido. Foi agraciado pelo prêmio alemão Humboldt Prize pela excelência em pesquisa. Seus interesses focam-se sobre teoria microeconômica, Teoria dos Jogos, incentivos em organizações, Finanças, Economia Comportamental e Experimental e organização industrial. É autor de “Feeling Smart: Why our Emotions are More Rational than We Think

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