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Para começar bem essa última semana de campanha no Benfeitoria, publicamos aqui uma entrevista exclusiva que o Prof. George Loewenstein concedeu ao blog. O Prof. Loewenstein é o Herbert Simon Professor of Economics na Carnegie Mellon University e um dos mais renomados pesquisadores em economia comportamental. Junto com Richard Thaler, Danial Kahneman, e outros, ele foi um dos fundadores dessa área de pesquisa. Confira abaixo as 5 perguntas que fizemos a ele.

1. Existem muitas definições de Economia Comportamental. Qual seria a sua definição favorita?

Sim, foram propostas várias definições, e o rótulo “economia comportamental” também é aplicado a atividades diferentes daquela que exerço. Uma tentativa de definição do tipo de economia comportamental a que me dedico seria: o enriquecimento da teoria e pesquisa econômica por meio da importação de insights e resultados de pesquisas da psicologia para a economia.

2. Qual seria o papel da EC em sua relação com a teoria econômica? Por exemplo, na sua opinião ela é um modo de melhorar incrementalmente modelos tradicionais de comportamento econômico ou uma força revolucionária que poderá um dia reformular a economia?

No curto para o médio prazo, penso que o papel da economia comportamental será melhorar incrementalmente modelos tradicionais de comportamento econômico baseados, por exemplo, no conceito de maximização da utilidade. No prazo mais longo, creio na possibilidade de que economistas comportamentais, talvez munidos de descobertas da neurociência, venham a apresentar estruturas alternativas com maior poder de predição para compreendermos o comportamento econômico (e não econômico) do ser humano.

3. Quais seriam, a seu ver, possíveis aplicações importantes da EC em um país em desenvolvimento como o Brasil?

Existem questões importantes para todos os países, por exemplo, a corrupção, a desigualdade de renda, que são especialmente importantes em muitos países em desenvolvimento como o Brasil. Elas não têm recebido a atenção que merecem dos economistas comportamentais dos Estados Unidos e Europa Ocidental, e seriam bons temas de pesquisa para os de países em desenvolvimento. Embora as ideias da economia comportamental venham sendo usadas para inspirar os tipos de experimento de campo que se tornaram muito usados em economia do desenvolvimento, eu gostaria de ver economistas comportamentais começarem a pensar em um nível mais elevado sobre o desenvolvimento econômico — os tipos de teorização mais abrangentes que caracterizavam a economia do desenvolvimento na época em que eu era aluno de pós-graduação.

4. Você fez várias pesquisas sobre preferências intertemporais, ou seja, o estudo do modo como as pessoas raciocinam e escolhem entre benefícios e custos que ocorrem em pontos diferentes do tempo. Qual é a lição mais importante, ou quais seriam as poucas lições mais importantes, que você extraiu de suas pesquisas nessa área?

A lição mais importante que vejo em minhas pesquisas e nas de outros estudiosos é que os trade-offs intertemporais não refletem um padrão único que possa ser representado em termos de desconto de utilidades futuras. Os trade-offs intertemporais refletem motivos e influências diversos, como: emoções e impulsos (por exemplo, tendemos a ser míopes quando nossos estados impulsivos são ativados); nossa propensão a deliberar em vez de agir obedecendo a um impulso imediato; se pensamos no futuro, conseguimos imaginá-lo e nos preocupamos com ele ou não; e o desejo generalizado que as pessoas têm de que as coisas melhorem com o tempo.
Portanto, os tradeoffs que um indivíduo faz em determinada situação dependem de como esses vários fatores se contrabalançam.

5. Você, que trabalha com a EC desde o princípio, tem alguma recomendação especial para acadêmicos e profissionais da área que trabalhem em países onde a EC ainda não é amplamente reconhecida?

Sim. Uma das características libertadoras da economia comportamental é sua receptividade a diferentes teorias, métodos de pesquisa e questões. Em seu trabalho, todo economista comportamental (inclusive o aspirante) deve pensar em quais são os problemas mais importantes na sua região específica, como a psicologia dos indivíduos de sua região pode diferir da que prevalece em outros países nos quais a economia comportamental se destaca e, sobretudo, deve pensar no que ele, pessoalmente, considera interessante e importante.

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