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…o tempo todo estamos sendo alvo de nudges do ambiente e de situações, portanto faz sentido pelo menos pensar em como podemos projetar melhor os ambientes e situações de maneiras que eles melhorem o bem-estar que as pessoas relatam e vivenciam.

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Paul Dolan é professor de Ciências Comportamentais na London School of Economics and Political Science (LSE). Ele é autoridade mundial em felicidade, comportamento e políticas públicas, e seu novo livro, Happiness by Design [Felicidade Construída, Objetiva], incorpora os mais recentes resultados de pesquisas sobre felicidade em nosso cotidiano.

1. Existem muitas definições de Economia Comportamental (e Ciência Comportamental) e o que ela abrange. Qual seria a sua definição favorita? Todas as pesquisas na Ciência da Felicidade são consideradas pesquisas em ciência comportamental?

Minha definição de ciência comportamental é: a conjunção das disciplinas relacionadas à compreensão e à mudança do comportamento humano, disciplinas essas que incluem principalmente a psicologia, a economia e a neurociência. Economia Comportamental é a aplicação de insights comportamentais, grande parte trazidos pela psicologia, às decisões econômicas. Nesse sentido, ela é mais restrita do que a ciência comportamental. As pesquisas em ciência comportamental costumam envolver experimentos de laboratório e de campo para determinar os efeitos causais de uma intervenção comportamental. Já as pesquisas sobre felicidade em geral envolvem examinar dados de levantamentos, idealmente feitos em grande escala com numerosas pessoas ao longo de muitos anos, para tentar descobrir os efeitos causais de determinantes específicos da felicidade com base em complexas técnicas econométricas. Portanto, em muitos aspectos a ciência da felicidade e a ciência comportamental diferem nos métodos que usam, mas a minha pretensão (e essa foi uma das motivações e razões de eu ter escrito Happiness by Design) é mostrar que não podemos tentar entender e mudar o comportamento sem considerar seu impacto sobre a felicidade; ou seja, estamos, na verdade, influenciando o comportamento de modos que tornem as pessoas mais felizes. É claro que o modo como as pessoas felizes se sentem afeta o que elas fazem, portanto existe uma relação importante entre comportamento e felicidade.

2. Você teve um papel importante na fundação intelectual do Behavioral Insights Team. Na sua opinião, quais são as limitações de uma abordagem comportamental na política? As pessoas enxergam nudges onde eles não existem?

Abordagem comportamental em política é uma coisa, formulação de políticas governamentais é outra.
O Behavioral Insights Team voltou-se acentuadamente para esta última, isto é, como se pode formular melhor as políticas. Como quase toda formulação de políticas tem por objetivo procurar entender e mudar comportamentos das pessoas, parece apropriado aplicar a ciência comportamental à formulação de políticas. É óbvio que isso pode ser feito; Barack Obama fez bom uso da ciência comportamental em sua campanha presidencial para induzir as pessoas a votar. A agenda política e as questões políticas são outro elemento a considerar; é muito interessante que as pessoas, particularmente os libertários, vejam nudges por toda parte nas políticas do governo e receiem que as autoridades estejam procurando nos induzir a fazer coisas que, idealmente, talvez não quiséssemos fazer, mas, por outro lado, pareçam dispostas a aceitar que o setor privado nos trate à base de nudges e empurrões. O setor privado faz isso porque procura maximizar lucros, e o setor público, porque deseja aumentar o bem-estar, por isso é curioso que exista essa distinção quando se poderia esperar que ela se desse no sentido inverso. Nessa questão é importante ressaltar que o tempo todo estamos sendo alvo de nudges do ambiente e de situações, portanto faz sentido pelo menos pensar em como podemos projetar melhor os ambientes e situações de maneiras que eles melhorem o bem-estar que as pessoas relatam e vivenciam.

3. Em seu artigo recente “Like ripples on a pond: Behavioral spillovers and their implications for research and policy” [“Como ondas em um lago: spillovers comportamentais e suas implicações para as pesquisas e políticas”], em coautoria com Matteo M. Galizzi, você examina a ideia de que nenhum comportamento acontece no vácuo, e que um comportamento pode afetar acentuadamente o que acontece a seguir. O artigo apresenta uma visão complementar e crítica das ideias mais recentes sobre como as políticas estão sendo formuladas e medidas atualmente. O que está errado? Como melhorar?

Os spillovers comportamentais são um dos nossos novos temas de pesquisa mais empolgantes. São movidos pela constatação de que “nenhum comportamento acontece no vácuo” — de que tentar influenciar um comportamento com nudges pode acarretar efeitos consequentes sobre outros comportamentos de natureza semelhante ou diversa, os quais poderiam reforçar o nudge inicial ou ter um efeito diferente do pretendido e piorar as coisas. As evidências são muito limitadas, e nossas pesquisas ainda estão engatinhando. Creio que isso esteja acontecendo porque, sobretudo na formulação de políticas, os departamentos trabalham em escaninhos. Cada departamento governamental está interessado nos objetivos específicos de suas políticas, por isso não há incentivo para reunir as várias consequências comportamentais das diversas intervenções. Creio que essa é uma das principais barreiras para chegarmos a uma melhor compreensão dos spillovers. No âmbito de cada política isso deveria ser mais fácil, e existem algumas evidências disso. Por exemplo, sabemos que cerca de 40% da poupança advinda do consumo de energia em residências são contrabalançados. Embora em certo sentido os spillovers compliquem as coisas porque geram a necessidade de tentarmos reunir todas as ondas do lago, eles podem nos dar oportunidades para mudar comportamentos intratáveis. Por exemplo, se você não consegue me induzir a fazer aquilo que idealmente gostaria que eu fizesse, provocar em mim um sentimento de culpa por não fazer talvez possa me induzir a alguma ação na qual você, como formulador de políticas, está interessado. Portanto, é complicado e difícil de captar, mas abre toda uma gama de novas possibilidades comportamentais.


Leia a entrevista completa no Guia de Economia Comportamental e Experimental a partir da página 265.


Paul Dolan

Professor de Ciências Comportamentais na London School of Economics and Political Science. Membro do Fórum Bem-estar Consultivo Nacional para o Instituto Nacional de Estatística no Reino Unido e principal autor do relatório ONS. Trabalhou com Daniel Kahneman na Universidade de Princeton entre 2004 e 2005. Pesquisa temas como felicidade, comportamento e políticas públicas, buscando métodos de mensuração da felicidade, suas causas e consequências. Consultor da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos para questões de medição em pesquisas sobre felicidade. Em 2010, ele foi designado para o Cabinet Office no Reino Unido para incorporar o relatório “Mindspace” na formulação de políticas. Possui mais de cem publicações. Em 2008, uma publicação sua no em>Economic Journal foi o artigo mais citado naquele ano. Autor do best seller “Happiness by Design”, traduzido para mais de doze países.

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